CIA DOS COMUNS

HISTÓRICO



A Cia dos Comuns foi criada pelo ator e diretor Hilton Cobra, a partir da necessidade de se instituir uma companhia de teatro negro contemporâneo, no cenário cultural brasileiro.

Em julho de 2001, inicia suas atividades com um workshop Oficinas Paralelas, dirigido para a formação de atrizes e atores negros, além da realização do Seminário A presença do negro no teatro brasileiro.

Nesse mesmo ano, estréia seu primeiro espetáculo A Roda do Mundo, em 2003, o espetáculo Candaces – A Reconstrução do Fogo, e em 2005, Bakulo - Os bem lembrados.

Em 2005 e 2006 realiza junto com o Bando de Teatro Olodum o Fórum Nacional de Performance Negra.

WORKSHOP (2001)

O workshop Oficinas Paralelas foi criado para dar oportunidade e revelar o potencial dos atores e atrizes negros brasileiros, fornecendo, ao mesmo tempo, a base para formação do elenco e da equipe técnica da Cia dos Comuns.

Quinze dias de atividades, com 45 artistas, onde a troca de experiências e a capacitação técnica e artística determinaram o norte dos trabalhos, centrados no desenvolvimento de: técnicas de interpretação, dança afro e moderna, capoeira, leitura de textos com a temática afro, além do exercício da criatividade através de oficinas de figurino e adereços, música e ritmo, ampliando assim o repertório de sensibilidades para o ator negro.

SEMINÁRIO (2001)

O Seminário A Presença do negro no teatro brasileiro objetivou contextualizar e solidificar as bases estéticas e culturais para a criação da Cia dos Comuns, dentro de uma perspectiva histórica e social. Nesse sentido, o Seminário apontou como resultado para construção do itinerário da Companhia, a adoção de uma estética comunitária assentada na corporalidade e teatralidade a partir do paradigma civilizatório africano. Os temas e palestrantes do Seminário foram:

* Sankofa – Matrizes Africanas Revisitadas - Eliza Larkin Nascimento (Cientista Social, Pesquisadora e Escritora)
* Corpo, Memória e Poder - Júlio César Tavares (Antropólogo)
* Corpo, lugar da memória - Leda Martins (Poeta e Ensaista)
* Matrizes africanas na arte brasileira - Mariza Guimarães Dias (Museóloga)
* Estética e Forma Social Negra - Muniz Sodré (Escritor)
* O Teatro Experimental do Negro - Abdias do Nascimento (Militante Negro e ex-Senador)
* Experimentalismo e Educação: Ser preto nas artes cênicas do Rio de Janeiro - Carmem Luz (Diretora de Teatro e Dança, Coreógrafa, Atriz e Roteirista)
* Bando de Teatro Olodum e Cia dos Comuns - Marcio Meirelles (Diretor Teatral)

I OFICINA COMUNS DE DANÇA AFRO (2006)

Ministrada pelo coreógrafo ZEBRINHA, um dos mais importantes e experientes profissionais do mundo da dança brasileira. Durante uma semana, 49 artistas do teatro e da dança mergulharam e experimentaram o que a de mais moderno na dança afro-brasileira.

OLONADÉ (2007)

Criar meios para a produção de um teatro a partir da perspectiva das culturas de matriz africana e capacitar profissionais nas artes cênicas, tendo como ênfase o teatro negro brasileiro. Estes foram os motivos que levaram a Comuns a realizar o “OLONADÉ - O Teatro da Comuns”, composto de palestras, debates, oficinas (dança, música de cena, teatro e figurino) e leituras dramatizadas.

Prof. Kabengele Munanga, Makota Valdina Pinto, Inaicyra Falcão, Conceição Evaristo, Leda Martins, CUTI (Luiz Silva) e MV Bill, iniciaram as atividades com as palestras onde foram discutidos desde a construção da nação e da democracia nos países africanos, passando pela reflexão sobre a necessidade de se construir uma forma positiva na utilização de elementos simbólicos nas artes cênicas em relação às expressões religiosas de matriz africana, como também: aspectos da abordagem na criação artística, que norteia corpo e ancestralidade; quais são as vozes quilombolas na literatura brasileira; reflexões sobre temas relativos ao Teatro Negro na contemporaneidade; por que se tornou urgente uma dramaturgia negra focada na vida atual?; dificuldades de um jovem morador de comunidade e a pesquisa em favelas do Brasil “Falcão Meninos do Tráfico”

O apuro artístico e técnico nos campos da interpretação teatral, da dança, da música de cena e do figurino, de forma a integrar o rico repertório individual. Objetivo principal das oficinas, que reuniu 98 participantes, trocando experiências e atentos às novas informações que possam enriquecer o seu fazer teatral.

Na Dança, com Zebrinha, Inaicyra Falcão e Rodrigo dos Santos, podemos perceber a total abertura e disponibilidade dos alunos/artistas aos estímulos para se trabalhar criações artísticas, alicerçadas em uma herança africano-brasileira; a utilização dos recursos da capoeira como método e disciplina do trabalho de ator e para a aplicação das técnicas contemporâneas (Horton - Graham etc) conjuntas ao vocabulário das danças afro-brasileiras.

Na Música, “tocada” por Robertinho Silva, Puan Viana e Jarbas Bittencourt, foi trabalhada a percussão corporal em forma de rudimento e coordenação motora; Ritmos brasileiros em forma de rudimento; Composições rítmicas. Mostrou-se a co-relação dos muitos ritmos utilizados em nossa música, que têm matrizes africanas, como samba, jongo, maculelê e choro; estimulou a criatividade dos participantes para a aplicação de música em espetáculos teatrais, observando a inter-relação entre os principais elementos envolvidos numa encenação, a saber: o texto, o gesto e o espaço.

Partindo de uma vivência prática, Biza Vianna, Rubens Barbot e Carlos Alberto Nunes, professores do módulo Figurino, estimularam a criatividade, o senso crítico e estético dos participantes, abordando o conceito das vestimentas; o figurino, tingimento e adereço como idéias; qualidades das tintas; visualização dos adereços em cena, sua comunicação; a importância das cores; visão de conjunto; o ator e o figurino; quando o adereço é do cenário, ou do figurino ou é objeto de cena. Primeiros desenhos.

No módulo Interpretação, João Lopes e Agnes Moço, dicção e canto respectivamente, mostraram a relação entre respiração e controle de volume; exercícios respiratórios c/ textos; ressonância; a voz na tragédia e no drama; recursos facilitadores para o aprendizado de uma boa emissão vocal, dando consciência da parte respiratória através de trabalhos corporais.

Ainda no mesmo módulo, Hilton Cobra e Ângelo Flávio estimularam nos participantes a investigação aos mecanismos técnicos (corporais e vocais) e intuitivos (janelas abertas para o inconsciente) que constroem a cena, despertando uma consciência mais responsável com o seu instrumento de trabalho e com a exposição semiológica; seu potencial criador (autores do seu próprio trabalho); a prontidão; o domínio absoluto e a ausência de magia na cena.

A riqueza das oficinas nos fez refletir quanto ao encerramento das atividades. Resolvemos então integrar dança, música e figurino, extraídos das oficinas, com a leitura dramatizada. Foram lidos dois textos de CUTI (Luiz Silva): “Dois nós na noite” e “Canção da saga”.

O OLONADÉ - O Teatro da Comuns reuniu 21 profissionais (palestrantes e professores), 98 alunos/artistas, e um público estimado em 800 pessoas presentes nas palestras e leituras. Um belo mergulho.

FÓRUM

I FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA - 2005

Em Salvador/BA, no período de 30.05 a 01.06.2005, a Cia dos Comuns realizou juntamente com o Bando de Teatro Olodum, o I FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA. Trata-se de um vento pioneiro onde reunimos representantes de 47 grupos e companhias de teatro e dança negro de todas as regiões brasileiras.

O I Fórum apontou a diversidade de propostas estéticas que fomentam as atividades e as formas de inserção dos grupos e companhias nas comunidades. Ao mesmo tempo, mostrou que estes compartilham uma série de realizações e valores, comprometidos com uma prática artístico-cultural que, nos seus modos de criação e de reflexão, reafirma a dimensão dinâmica das matrizes afro-brasileiras.

II FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA - 2006

A Cia dos Comuns realizou juntamente com o Bando de Teatro Olodum, o II FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA, de 11 a 14 de setembro/2006, em Salvador/BA. O II FORUM promoveu o encontro de 66 representantes de grupos e companhias de dança e teatro negros brasileiros além de acadêmicos, pesquisadores e estudiosos da performance negra, durante o qual foram realizadas Palestras, Mesas redondas, Debates, Oficinas, Grupos de trabalho e Espetáculo dança que contribuíram para:

• a estruturação e visibilidade dos grupos de dança e teatro negros brasileira;
• a continuação do mapeamento dos grupos e companhias para o registro e atualização sistemática das suas atividades artístico-culturais;
• a reflexão sobre as questões levantadas na sua primeira edição:

- meios e mecanismos de manutenção dos grupos;
- formulação de linguagens estéticas que confrontem os vários desafios da contemporaneidade;
- formação de intérpretes, técnicos e diretores;
- criação de repertório.

• O desenvolvimento de estratégias, ações e procedimentos que fortaleçam as atividades dos grupos e companhias, dentre eles:

- a criação de formas permanentes de comunicação e intercâmbio, nacional e internacional, que possibilitem a ampla disseminação de informação e conhecimento;
- a articulação política no enfrentamento conjunto de questões afins;
- participação nas instâncias de deliberação de políticas públicas culturais;
- a criação de redes de interlocução e de um banco de dados que facilite o trânsito de informações de mútuo interesse, inclusive as relativas aos meios de acesso ao patrocínio e ao fomento públicos e da iniciativa privada.

III FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA - 2009

Em julho de 2009 realizamos a terceira edição do Fórum de Performance Negra, juntamente com o Bando de Teatro Olodum, no Teatro Vila Velha, em Salvador, no período de 06 a 09 de julho, com sucesso e repercussão acima da expectativa. Foram 4 (quatro) dias de intensa atividade, onde se reuniram 160 pessoas entre artistas representantes de grupos e companhias, pesquisadores e acadêmicos com o objetivo de discutir nossa dramaturgia negra e os mecanismos de financiamento capazes de dar conta da demanda da nossa produção artística.

ESPETÁCULOS

A Roda do Mundo, Candaces – A Reconstrução do Fogo e Bakulo - Os bem lembrados, são espetáculos que apresentam ao grande público o que há de mais expressivo na produção de matriz africana no mundo contemporâneo, fruto da contribuição do negro da diáspora à civilização humana no âmbito das artes cênicas.

“A RODA DO MUNDO” (2001/2002)

Um espetáculo onde o jogo da capoeira é o fio condutor de histórias sobre a luta pela sobrevivência a partir das dificuldades da comunidade negra, dentro de uma estética onde o gesto, a dança e a música imprimem um significado especial à cena.

Esperança, fé, corrupção, trabalho, marginalidade e o preconceito são alguns dos temas retratados nesta montagem, que reúne ainda recursos multimídia aliados às diversas formas de expressão de matriz africana tais como o samba, o hip hop e o blues.
Temporada na Fundição Progresso/RJ e no Teatro Carlos Gomes/RJ e no Teatro Vila Velha/SALVADOR-BA, atingindo um público de 12.500 espectadores.

“CANDACES – A RECONSTRUÇÃO DO FOGO” (2003/2004)

Candaces – Shanakdakete, Amanirenas, Amanishakete, Amanitere – eram rainhas e guerreiras negras que viveram antes da Era Cristã, detendo o poder no Império Méroe.

A partir da reinvenção artístico-histórico destas personagens, o espetáculo retrata um painel de histórias protagonizadas por personagens absolutamente comuns. Mostra um retrato fiel da bravura cotidiana da mulher negra brasileira e do quanto é poderoso o ser feminino. É um mergulho no universo feminino, destacando a riqueza, os percalços e os avanços que marcam a trajetória das mulheres negras e as contribuições políticas, culturais e sociais até a nossa época.

Contribuindo para o desenrolar de cada história, as danças e as sonoridades de raízes africanas presentes nos cultos de candomblé brasileiros.

Temporada nos Teatros Glaucio Gill e Carlos Gomes, seguindo em turnê para Salvador, no Teatro Vila Velha e Brasília, no Teatro Nacional/Sala Villa-Lobos. De volta ao Rio, fecha temporada no Theatro Municipal. O público atingido até o momento é de 18.000 espectadores.

CANDACES, ganhou o Prêmio Shell/2003 de Melhor Música, tendo sido indicado em mais 3 categorias: (Direção, Figurino e Categoria Especial/Coreografia). Foi também eleito pelos Jornais “O Globo” e “Jornal do Brasil” como um dos 10 melhores espetáculos de 2003.

“BAKULO – OS BEM LEMBRADOS” (2005/2006)

Evocando mitos passados e com uma narrativa fortemente baseada no pensamento do Professor Milton Santos e sua obra “Por uma outra globalização”, “BAKULO – Os bem lembrados” traz também aspectos da genialidade de Glauber Rocha na construção de um texto cuja força está na palavra e na discussão de temas como a ocupação dos territórios, exclusão social e políticas para negros, tudo dentro de uma contextualização inquietante, seca e direta – sem metáforas e mais realista.

Com uma estética que valoriza a música – executada ao vivo por um quinteto acústico; BAKULO flerta com a linguagem do cinema a partir da construção de cenas que são apresentadas como um roteiro cinematográfico. “O espetáculo corre em quatro linhas que se cruzam e interagem entre si: o texto de Milton Santos; os personagens contemporâneos que falam através desse roteiro; os personagens ancestrais presentes ao longo da peça e a trilha musical harmonizando as situações retratadas no palco. Optamos por apresentar essas cenas de forma fragmentada, instigando o espectador a criar a sua própria edição” afirma Marcio Meirelles, diretor do espetáculo.

Temporadas no Rio de Janeiro, em 2005, nos Teatros Nelson Rodrigues e Teatro SESI. Curitiba no Teatro Guairão, Brasília no Teatro Nacional / Sala Martins Pena, Belo Horizonte no Teatro SESIMINAS e Salvador no Teatro Vila Velha. Fecha a turnê no Theatro Municipal do Rio de Janeiro com uma apresentação para 2.350 espectadores.

“SILÊNCIO” (2007-2008-2009)

Qual o silêncio contido no corpo de uma pessoa que, durante toda a sua existência, ao sair de sua casa, pensa que a qualquer momento poderá ser vítima do racismo? Quantos gritos ainda não gritados, na vida de uma gente comum, na vida de tantos homens e mulheres negras do nosso mundo?

O discurso de Silêncio seja através do corpo, da música, da palavra, da luz, cenário e figurino, começou a ser esboçado a partir dessas duas inquietações. E guiados por elas, nos deparamos com a loucura, ou as formas de loucura estimuladas pelo racismo. E é isso que trata o espetáculo Silêncio.

Temporadas no Rio de Janeiro no Teatro Livre – Fundição Progresso e Teatro Gláucio Gill. Brasília no Teatro Plínio Marcos – FUNARTE, Recife no Teatro Apolo, Salvador no Teatro Vila Velha e Santo Amaro da Purificação-BA no Teatro Dona Cano.