segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Gastando sapatos no Olonadé"


Centro Cultural Laurinda Santos Lobo  - local de realização das oficinas e de alguns espetáculos a serem apresentados. Rua Monte Alegre, nº 306, Santa Teresa - Rio de janeiro.


Após uma semana inteira de muita capoeira, aikidô, canto, dicção, circo, dança contemporânea e direção teatral, a segunda semana de oficinas da mostra Olonadé também promete uma profusão de troca de saberes, experiências, compartilhamento de ideias, provocações, reflexões e buscas no universo do artista, enveredado na linguagem e nas entranhas do ser negro.


Oficina de Dança Negra Contemporânea, ministrada por Rubens Barbot


Ao final da última semana de oficinas, foi notória a diferença que os encontros proporcionaram aos alunos. Muitos disseram que se sentiram transformados, revigorados, imbuídos de negritude e identidade. Outros disseram que simplesmente se sentiam bem por pertencer culturalmente e politicamente a uma rede de cúmplices de uma mesma luta.


A oficina de capoeira, por exemplo, mostrou o quanto é possível descobrir em si a corporeidade e ancestralidade. Muitos alunos que não se identificavam com essa arte, começaram a sinalizar neles mesmos os corpos e a vivência da capoeira angola, até então latentes. Pessoas que nunca imaginaram entrar numa roda, para jogar a capoeira, puderam manifestar pela primeira vez as suas vontades e possibilidades reverberantes em seus corpos.

A antropologia do gesto, a arte marcial como suporte do trabalho do ator


Amir Haddad trouxe como proposta em sua oficina de direção teatral o questionamento do que é fazer teatro, do que é o teatro popular e, fundamentalmente, do que é o teatro negro. Amir sugeriu que o teatro negro fosse um teatro que primasse preponderantemente pela liberdade. Depois “deixou o santo falar”, como ele diz, e destacou a importância da vivência do ator/artista com as populações “minorizadas”, representadas em sua maioria pela população pobre. “O ator tem que gastar sapato”, disse, buscar a sabedoria popular e o elo com a ancestralidade, pois só assim é possível, verdadeiramente, encontrar uma identidade e manifestar, com plenitude, a sua arte. O diretor e fundador do “Tá Na Rua” arrematou dizendo que “há que se iluminar a consciência para que a prática se modifique”, resumindo assim a ideia da união entre o teórico, as trocas de saberes, e a ação prática do fazer artístico, que pode se configurar em qualquer espaço físico teatral não convencional, se desvirtuando assim do modelo burocrático do palco italiano.

Amir Haddad com os seus alunos de direção teatral


Agora a programação segue com as oficinas de música, percussão, dança afro-contemporânea e interpretação, respectivamente com o professor Jarbas Bittencourt, Puan Viana, Zebrinha e Fernanda Júlia.




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